A pandemia do Covid-19 gerou uma grande crise de saúde, social e econômica em vários lugares do mundo e agora afeta fortemente o Brasil. Na última semana atingimos números altíssimos de infectados e ultrapassamos a primeira dezena de milhares de mortos, de acordo com dados oficiais.
Por Luisa Souto/NPC*
Proteger-se do vírus e contribuir para diminuir o contágio demanda esforço e uma estrutura social que falta a uma grande parte da população brasileira. Condições básicas, como produtos de higiene e alimentos, são ausentes na rotina de muitos.
Sem poder contar com o poder público para resolver as necessidades básicas e imediatas da população, grupos comunitários e movimentos sociais tem agido por conta própria para contribuir com a sobrevivência da população mais vulnerável.
Organização para enfrentar a pandemia
O Movimento dos Trabalhadores Sem-teto (MTST), com milhares de famílias em sua base social, está mobilizado para enfrentar a crise em todos os estados onde atua. O foco do MTST nesse momento é a solidariedade, conta Fabiana Batista, integrante do movimento, com quem conversei para saber como essa situação está sendo encarada.
“Como são várias ocupações em todo país, não é possível ter um panorama geral da situação, mas em praticamente todas existem ações sendo executadas”, explica. Alguns exemplos são as mobilizações dentro das ocupações para garantir comida, produtos de limpeza e de higiene pessoal para todos os acampados ou ocupantes. Através de doações de parceiros e com a arrecadação feita por uma campanha de financiamento coletivo, o movimento conseguiu montar as cestas básicas de alimentação e higiene, sem as quais não se sobrevive.
Prevenção pessoal, cuidar de si dentro do coletivo
Uma das primeiras medidas divulgadas como forma de combate ao Covid-19 foi a necessidade de limpeza constante das mãos para evitar o contágio a partir do contato da possível infecção com boca, nariz e olhos. Além do esforço para garantir que todos os moradores tenham acesso aos produtos de higiene pessoal, como sabonete, em Sergipe, por exemplo, a coordenação do MTST conseguiu álcool gel para todas as famílias e também para deixar disponível nas entradas e na cozinha da ocupação. No Ceará, a campanha Máscara Para Todos está entregando máscaras de proteção na casa de moradores da periferia de Fortaleza.
Luta contra as notícias falsas
Na tentativa de se contrapor à grande quantidade de notícias falsas sobre a pandemia que circulam pelas redes sociais, outra frente de atuação do movimento foi montar uma rede de comunicação online para manter contato constante com as famílias. Além de desmentir essas notícias e ajudar no esclarecimento de alguns temas, o grupo também recebe e divulga denúncias de situações que estejam colocando em risco a vida do trabalhador e da trabalhadora, seja por parte dos empregadores ou por parte do Estado.
Isolamento social e trabalho precário
O isolamento social segue sendo apontada como a medida mais eficaz para conter o avanço do vírus. Nos últimos dias, inclusive, vimos que uma série de cidades estão precisando endurecer as medidas para controlar o isolamento por conta do aumento do número de casos.
No que diz respeito ao cotidiano das ocupações, Fabi conta que é possível perceber uma mudança: "a movimentação nas ' ruas' diminuiu e as pessoas passaram a ficar mais em seus barracos".
Mas essa é uma questão complicada se considerarmos a situação de boa parte da classe trabalhadora brasileira em geral, trabalhadores precários ou desempregados. E não seria diferente dentro do movimento. A militância é composta em grande parte por trabalhadores informais, que vivem de bicos, empregadas domésticas e também trabalhadores dos setores essenciais, como funcionários de supermercados, garis.
Cuidado com os idosos
Outra grande preocupação interna é com a situação dos idosos. A base do movimento é composta por muitos idosos que muitas vezes moram sozinhos ou vivem em situação de vulnerabilidade sem receber aposentadoria. Considerando isso, eles têm sido prioridade na hora da separação das cestas básicas e também acompanhados por ligações frequentes para saber como estão.
Cozinhas comunitárias
O combate à fome sempre foi uma prioridade no movimento, tomando forma com a criação das cozinhas comunitárias e as constantes ações de distribuição de alimentos. O esforço do movimento para arrecadar dinheiro para comprar as cestas básicas tem como motivação mais do que combater o vírus: "Sabemos que agora, além da covid-19, o maior vilão nas favelas e periferias do Brasil é a fome e o desemprego em massa", conclui Fabi.
Campanha de arrecadação é relançada
No momento, os esforços do movimento estão voltados prioritariamente para mapear e alcançar o máximo de pessoas que estejam precisando de ajuda para passar por essa crise com o menor sofrimento possível.
Inicialmente, o Fundo de Emergência para os Sem-Teto Afetados pelo Coronavírus tinha como objetivo ser uma campanha de arrecadação para dar suporte às famílias do movimento, mas esse objetivo se expandiu. "Percebemos que podemos ir além e já fizemos doações de cestas básicas e produtos de higiene não apenas para essas famílias, mas também para moradores de rua, para mulheres em prostituição, para mães que estão solteiras e familiares das pessoas que estão no movimento", lembra.
A primeira campanha arrecadou R$ 400 mil e ajudou 8.300 famílias com 91 toneladas de alimentos, kits de limpeza e higiene pessoal e medicamentos. Como a situação ainda deve piorar, uma nova campanha foi lançada. E a ideia é aumentar a meta sempre que o objetivo for atingido e enquanto durar a crise.
O Núcleo Piratininga de Comunicação já contribuiu. Contribua você também!
Para contribuir com o Fundo de Emergência para os Sem-Teto afetados pelo Coronavírus, acesse: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/ajude-os-sem-teto-a-enfrentar-o-coronavirus.
Veja uma animação que mostra todas as etapas desde que você faz a sua doação até ela chegar para quem precisa: https://www.facebook.com/mtstbrasil/videos/155846599201567.
Para saber mais informações e acompanhar as ações do movimentos em outras localidades do país, siga https://www.instagram.com/mtstbrasil.
* Luisa, a entrevistadora; e Fabiana, a entrevistada, fazem parte da Rede de Comunicadores do NPC.
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