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Aumento da cesta básica compromete alimentação dos mais pobres durante a pandemia

Atualizado: 20 de nov. de 2020


Foto: Tania Rego/Agência Brasil

Por Jaqueline Suarez/NPC*


Garantir os itens da cesta básica tem sido cada vez mais difícil em várias capitais do país. O aumento no valor de alimentos de primeira necessidade como arroz, feijão, óleo, leite e batata tem comprometido não apenas o orçamento, mas também a alimentação das famílias. Quando não é mais possível esticar o valor gasto no supermercado, os trabalhadores são obrigados a substituir, reduzir e evitar comer determinados alimentos.

“Muitas coisas que consumíamos aumentaram muito. Não conseguimos manter o mesmo padrão de antes, tivemos que fazer alguns cortes em certos produtos”, avalia Raquel Bastos, que vive com o marido e dois filhos no morro do Fallet, na região central do Rio. “Por exemplo, o arroz, o óleo, o feijão, a Carne, o leite eram itens que faziam parte do nosso dia a dia e notei que tudo isso teve um aumento muito grande. Então, tivemos que reduzir. Tenho trocado o arroz por macarrão, faço uma macarronada e já economizamos no arroz e feijão”, explica ela.

O custo de uma cesta básica no estado do Rio chegou a R$ 592,25 em outubro, segundo pesquisa nacional do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Nos últimos 12 meses, a cesta acumulou um aumento de 28%, isto significa que um ano atrás os mesmos itens custavam R$ 462,58. Para o cálculo, o instituto considera os gastos com a alimentação necessária para um adulto durante um mês (Acesse a pesquisa completa aqui).

Além da alta no valor dos alimentos, em muitas casas houve perdas financeiras por conta da pandemia. Demissões, reduções salariais ou a perda de bicos e serviços não formalizados apertaram a renda das famílias em um momento no qual os gastos com o básico dispararam. Na casa de Raquel, atualmente, a única renda é o salário mínimo do marido. “Eu fazia parte de um projeto em uma ONG, que parou com a pandemia. Conclusão, eu perdi essa renda. Era um trabalho informal, não tinha carreira assinada, nem nada. Era apenas duas vezes por mês, mas está fazendo falta”, explica.

Na casa de Silvana Sá, a pandemia também trouxe perdas financeiras, mas durante um período curto. O marido, que trabalha com pesquisa, teve parte do salário reduzido no começo do ano, por conta de uma série de cortes do governo federal na Ciência. “Por sorte, houve direcionamento de recursos para pesquisa com Covid e ele fazia parte do grupo. Então, passamos pouco tempo com a renda impactada”, explica Silvana. A renda da família é composta também pelo salário dela, que é jornalista. O casal vive com os dois filhos, uma criança e um adolescente, em Bonsucesso, zona norte da cidade.

Apesar de reduzir e até cortar o consumo de determinados alimentos, ela conta que o valor gasto no supermercado quase dobrou. “Começamos a fazer mudanças nos hábitos de compras desde o início da pandemia, mas a diferença nos preços nós começamos a sentir em junho, mais ou menos. Agora, no entanto, parece que estamos no maior patamar de elevação de preços”, avalia a jornalista. “Com todas as manobras que estamos fazendo pra economizar, a conta do mercado quase dobrou”.

Preços prejudicam doações

O aumento no valor da cesta básica, o desemprego e a redução de renda têm impactado, sobretudo, as famílias mais vulneráveis. São pessoas que tiveram o trabalho inviabilizado pela adoção do isolamento social e não estão conseguem mais comprar o básico. Foi pensando em ajudar essas famílias que a relações públicas Monique Paulla começou, com a ajuda de amigos, a organização uma ação solidária nos morros do Salgueiro e da Mangueira, na zona norte do Rio.

Para conseguir comprar as cestas básicas, o grupo lançou uma vaquinha virtual e, em poucos dias, conseguiu chegar à meta inicial. O valor estipulado foi definido a partir de uma pesquisa de preço, realizada em meados de agosto. Pouco mais de um mês depois, quando foram fechar a compra dos alimentos, o aumento dos preços já representava a perda de dez cestas básicas.

“Nossa conta inicial, quando lançamos a ação, foi de termos cestas com alimentos e produtos de limpeza por R$ 100 reais. Quando fomos fechar a compra das cestas com esses mesmos itens o preço já era R$ 110,00 reais. Com base nisso, podemos calcular uma perda de dez cestas devido ao aumento”, explica Monique.

“Lembro que, por conta dos preços, ficamos com dúvidas se fecharíamos a compra ou se seria melhor esperarmos um pouco para conseguirmos um preço mais baixo. Com o coração apertado, decidimos fechar porque era uma questão urgente, para famílias em situação de vulnerabilidade precisavam esses alimentos”, conta. A distribuição dos alimentos aconteceu no início de outubro.

De onde vem o aumento?

Se a conversa sobre as políticas econômicas passam longe da maior parte dos lares brasileiros, os efeitos dessas medidas são sentidos no dia a dia, especialmente na mesa dos mais pobres. As razões para o aumento nos valores são variadas, mas a maior parte pode ser explicada pelo aumento no dólar. Com a moeda mais valorizada, os produtores brasileiros têm optado em vender seus produtos para compradores internacionais. Se há menos oferta no mercado brasileiro, os preços sobem. Assim aconteceu com o óleo de soja e o arroz, por exemplo.

Outro fator que influencia o valor dos alimentos é a qualidade da colheita no campo. Quando a safra não é boa, a oferta de produtos cai e eleva os preços, como aconteceu com a batata e o tomate no mês passado.

No mês de outubro, segundo dados do Dieese, o valor da cesta básica subiu em 15 das 17 capitais pesquisadas. Em todas elas houve um aumento superior a 10% no último ano. Segundo o Instituto, a cesta mais cara do país é a de São Paulo, que custa R$ 595,87, seguida pela do Rio de Janeiro, que custa cerca de R$ 3 reais a menos. Considerando a cesta básica de maior valor, o Instituto aponta que o trabalhador brasileiro compromete, em média, 53% do salário com alimentos básicos. Uma pessoa, que ganhe um salário mínimo (R$ 1.045), trabalha mais da metade do mês apenas para garantir sua alimentação.


* Jaqueline Suarez faz parte da Rede de Comunicadores do NPC.

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