Além das periferias, as ocupações urbanas também levantam a preocupação quanto à possibilidade de manter as dicas de isolamento social e de higiene. Além disso, muitos moradores, que são trabalhadores informais, já estão sentindo no bolso as dificuldades desse momento. O “Diário da pandemia na periferia” conversou com Angela Cassiano, da Central de Movimentos Populares (CMP), e Genilson Xavier de Medeiros, do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). Ambos são moradores da ocupação Vito Giannotti. A ocupação tem quatro anos e fica no bairro do Santo Cristo, zona portuária do Rio. Recebeu esse nome em homenagem ao metalúrgico e comunicador popular-sindical que é um dos fundadores do NPC. Além dos dois movimentos citados, a ocupação também é organizada pela União Nacional de Moradia Popular (UMP).
Por Sheila Jacob
Segundo os dois entrevistados, devido à pandemia do coronavírus, as mudanças no dia a dia da ocupação já são perceptíveis. Por exemplo, há bem menos movimento nas áreas comuns. Também foram suspensas as reuniões que aconteciam todas as terças-feiras, para evitar aglomerações, e diminuiu o movimento nos fins de semana, principalmente o “entra e sai” para ir a festas. Os moradores têm procurado adotar medidas de higiene. “Ao entrar no prédio, todo mundo higieniza as mãos, deixa o sapato do lado de fora da casa. Na portaria tem escala. Sempre que um entra, faz higiene das chaves, do cadeado, do portão. Estamos tentando nos manter seguros”, contou Ângela.
“Aqui no meu apê, eu lavo o chão com água sanitária, água, desinfetante e sabão líquido. Ajudo todos os dias minha esposa, que é muito correta nesse quesito de higiene da casa e com o corpo”, garante Genilson. Ele diz que sempre procura seguir as orientações que vê pela TV sobre como se prevenir, além de se basear nas informações que circulam pelo grupo de whatsapp da ocupação. Por exemplo: o que antes era comum, agora é raro de se ver: “Nada de aperto de mão, nada de abraços, uma certa distância pra falar”, avalia.
Do terraço da ocupação, Genilson diz ver um movimento bem menor do que o costume, mas também não se perde a oportunidade de oferecer ajuda. “Alguns moradores saem pra comprar alguma coisa no mercado próximo daqui, mas voltam logo. Uns até se oferecem pra ir pra comprar alguma coisa para a velha guarda”, brinca.
Apesar de tudo parecer ir bem, a dificuldade financeira começa a aparecer. Angela, por exemplo, que é ambulante, está sem trabalhar. Outros moradores da ocupação que são trabalhadores informais como ela – diaristas, pintores, ambulantes – estão em casa e, para muitas pessoas, já está faltando alimentos, principalmente para os que têm filhos. Nesses momentos, a solidariedade e a colaboração de quem pode ajudar é fundamental. “Na semana passada conseguimos dez cestas básicas de doação, que foram divididas entre as famílias com mais necessidade”.
Outra dificuldade apontada por ela é não poder visitar os familiares. “Essa distância é terrível. Minha família é do interior do Rio e nem posso visitar minha mãe. Como eu circulei muito pelas ruas, fico preocupada. Tenho ligado todos os dias, para ela não ficar deprimida”, relata.
Para ajudar os moradores da ocupação Vito Giannotti e de outras ocupações urbanas, está havendo campanhas de doação financeira e de alimentos. Para saber como ajudar, confira as orientações a seguir.
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