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Moradores do Morro do Divino, na Praça Seca, seguem orientações da OMS

Medo, isolamento, comércio fechado, ruas desertas, solidariedade, desemprego e muita incerteza do futuro. É o que revela Antonieta Simões, 39 anos, ex-aluna do Curso de Comunicação do NPC, trabalhadora terceirizada e mãe de dois filhos. Ela apresenta a realidade da quarentena de uma família de classe baixa do subúrbio e de vizinhos e amigos do Morro do Divino, comunidade onde ela morou por cinco anos.


Por Tatiana Lima/NPC

Antonieta Simões esteve no Morro do Divino, na Praça Seca, nesta quarta-feira, 1º de abril. Foi verificar a pequena obra na casa que tem na comunidade. Resolveu não parar o pequeno reparo para não deixar na mão o amigo pedreiro. Na comunidade, encontrou o comércio fechado, ruas e vielas desertas e ex-vizinhos trancados em casa. “Somente duas padarias estavam abertas. A banca de frutas, o lava-jato, bares, todo comércio que não é essencial está fechado. Até o mototáxi, só tinha dois no ponto, mas ninguém subia ou descia”, descreve.


Antonieta e a família moraram no Morro do Divino entre 2010 e 2015, quando foram removidos durante a revitalização do Largo do Campinho devido às obras do BRT e a preparação da cidade para os megaeventos esportivos. Apesar de ter se mudado para Cascadura, ela mantém o contato com ex-vizinhos e amigos.


“Quando fui lá só consegui falar com as pessoas porque eu bati na porta delas. E, mesmo assim, eu conversei com minhas amigas na porta de casa. Essa coisa de chegar, entrar em casa para sentar, conversar e tomar um café, acabou. As pessoas estão com medo do vírus. Estão dentro de casa, respeitando a quarentena”, explica.


De acordo com ela, a comunidade aguarda ansiosa o auxílio anunciado pelo governo para dar suporte as famílias, pois a grande maioria dos moradores do Morro do Divino é formada de trabalhadores informais: são vendedores ambulantes, diaristas, pintores de faixas etc. “Todas as minhas amigas são diaristas. Todas foram dispensadas pela patroa por medo de levarem contaminação para a casa delas. Elas estão desesperadas, pedindo para arranjar qualquer coisa para sobreviver”.


Das 20 amigas diaristas, apenas uma teve o pagamento mantido pelo chefe, mesmo sendo liberada do serviço para fazer a quarentena. Para piorar a situação, ela conta que, mesmo quem tem renda, preocupa-se com a alta do preço de alimentos e outros produtos de consumo no supermercado. “Está tudo mais caro. Meu marido foi no supermercado e pagou R$7 em um quilo de batata”.


Uma das amigas dela do Morro do Divino, Sueli, por exemplo, é mãe de duas crianças com deficiência. Ela recebe benefício social do governo, mas apenas de um dos filhos. O pagamento foi feito, mas a elevação dos preços de consumo da família já comprometeu a renda.


“É aquilo, né? Se a gente tem medo das coisas subirem e nem a gente conseguir comprar, imagina quem já tem pouco ou nada. Como fica?”, desabafa Antonieta.


Comércio de Madureira e Cascadura também está fechado


Atualmente, ela e o marido, além dos dois filhos – uma adolescente de 14 anos e uma criança de dois – moram em um pequeno condomínio no bairro de Cascadura, subúrbio do Rio. No bairro, também está tudo fechado. Somente padaria, mercado e o borracheiro seguem abertos. Inclusive as igrejas católicas e evangélicas, além dos centros espíritas e de umbanda e candomblé, também não estão tendo cultos, missas ou encontros. O único fluxo de pessoas nas adjacências de Cascadura e Madureira é nas estações no BRT, seja de passageiros ou de pequenas bancas de camelôs.


As escolas particulares do local também fecharam. Já a escola municipal do bairro abriu apenas na primeira semana, no horário de almoço, para as crianças terem acesso à merenda escolar. Porém, com o recesso forçado da Covid-19, a procura inicial foi baixa e, logo depois, a prática foi proibida pela Justiça devido ao risco de aumentar a contaminação pela circulação das pessoas.


A Secretaria Municipal de Educação decidiu na quarta-feira (01/4) distribuir cestas básicas para parte dos estudantes da rede. A distribuição será concentrada em cerca de 50 mil famílias de baixa renda, que tenham alunos matriculados nas escolas municipais e estejam inscritos em programas sociais como o Bolsa Família e o Cartão Família Cariocas.

A filha de 14 anos de Antonieta, Ludmila, não estuda na rede pública. Ela é aluna do colégio Souza Marques, em Cascadura. Esta semana, começou a ter aulas online, mas a família está sem notebook. “É muito complicado. A minha filha está fazendo as aulas pelo celular, o que dificulta muito, sem contar as impressões. Quer dizer: quando a gente acha onde imprimir e tem dinheiro para isso”, reclama a entrevistada.


De acordo com ela, os livros escolares foram comprados em janeiro, mas não foram entregues pela escola no início do ano letivo, em fevereiro. Ou seja, antes da pandemia do novo coronavírus (Sars-Cov-2).


Quarentena: solidariedade e incertezas


No prédio em que mora no subúrbio, Antonieta Simões conta que vivem 60% de pessoas idosas. Ela e o marido se voluntariaram para ajudar os vizinhos indo ao mercado e à farmácia. “Eu bato na porta perguntando se eles precisam de alguma coisa, mas é meu marido que está indo mais na rua. Eu não saio quase nada. Só vou lá na garagem brincar um pouco com o meu filho de dois anos”, explica.


É ele quem vai ao supermercado já que sai para trabalhar dia sim e outro não. A empresa do marido, que atua na área de Tecnologia da Informação, fez uma escala para os funcionários trabalharem um dia em home office e no outro fisicamente na empresa, evitando aglomerações. Já Antonieta é contratada da empresa Plataforma, que presta serviço terceirizada à UniRio.


Com o fechamento da universidade, ela foi liberada de prestar serviços como secretária do diretor do Departamento de Biomedicina. Como a atividade era ligada diretamente à agenda e apoio ao diretor dentro da universidade, optou-se por ela ser dispensada, inclusive do trabalho home-office. Além dos servidores, a instituição liberou também os terceirizados que são do grupo de risco – pessoas com mais de 60 anos e com doenças pré-existentes. Somente atividades essenciais foram mantidas. “Só trabalha quem é da segurança patrimonial e quem tem ligação direta e indispensável com os laboratórios”, revela.


Até o momento, a empresa para qual ela trabalha como contratada terceirizada não demitiu funcionários, mas eles foram avisados de que não receberão os auxílios de passagem e alimentação no pagamento. “Acho justo, já que a gente não está efetivamente indo ao trabalho, mas ficamos preocupados com o futuro. Com o valor que vai cair mesmo na conta no quinto dia útil. Só aí vamos saber se não houve dias descontados”, explica. E conclui: “Já tem um boato de que vai haver cortes. A gente não pediu pra sair. Foram eles que liberaram a gente”.


Neste período de isolamento social, o IBGE está coletando os dados no PNAD (Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua), por telefone, seguindo orientações do Ministério da Saúde, para aferir as consequências do desemprego com as restrições econômicas ao comércio e isolamento social com o Covid-19.


Dados divulgados no dia 31 de março pelo IBGE mostram que o desemprego cresceu no trimestre de dezembro, janeiro e fevereiro, chegando a 11,6%. Ou seja, a piora do índice ocorreu antes do crescimento das contaminações pela pandemia do novo coronavírus chegar ao Brasil.

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